1 O Grande Apostador

por Israel.França

Sílvio era raquítico e muito vesgo, teimoso, desajeitado, e nunca havia namorado. Estava sempre apostando, e queria ganhar todas. Outro dia estávamos na praça de alimentação e do nada ele segurou o frasco de pimenta e perguntou quem apostava com ele de que ele beberia todo o molho. Meus Deus! Aquele era o molho mais quente de todo o shopping. Estávamos com mais dois amigos e um deles teve a audácia de dizer que apostava que ele não tomaria. Foi tudo muito rápido. Que trabalho eu tive naquela noite. Sílvio foi levado em nossos ombros para o hospital, mas o maldito ainda ganhou aquela aposta. 

Quando eu ia entrando no quarto em que ele estava internado pude captar uma conversa que ele estava tendo com o médico enquanto este lhe examinava. O meu amigo perguntou o quanto o outro apostava de que "ia se sair bem dessa". O profissional nem lhe deu atenção, o ignorou completamente enquanto segurava em seus pulsos e fazia alguma anotações. Eu entrei calmamente, estava preocupado com o seu estado. O médico me perguntou se fui eu que havia trazido ele, depois completou dizendo que foi bom eu tê-lo trazido a tempo, se tivesse demorado um pouco mais as consequências seriam pior. Sílvio abriu a boca:

- Quer apostar que não.
- Sílvio, cala a boca - Eu disse finalmente.
- Por que eu deveria me calar?
- Vamos apostar - que magnífica ideia eu tive.
- Opa! To dentro. Qual é a aposta?
- Aposto que você não consegue ficar calado até o dia amanhecer.
- Já entendi tudo. Mas eu vou ganhar essa aposta. Começamos a partir de agora. Valendo.
Sílvio so teria alta no dia seguinte. Fui embora sozinho, não tinha mais amigos além daquele doente viciado em apostas de todo o tipo. Os outros se foram, coisa que o Sílvio nunca faria por conta própria.

Ao chegar no hospital no dia seguinte tive a maior surpresa de toda a minha vida. Sílvio havia sido operado de apendicite, e o pior, sem anestesia.
- O que aconteceu? Não me cotou que tinha problema de apendicite.
- Já posso falar?
- Como assim "ja posso falar"? Estou te perguntando. Responda.
- Nem eu sabia.
- Você não veio aqui para ser operado disso. E por que não disse aos médicos que estava doendo.
- Pois é. Foi sem anestesia, não foi? É que eu tentei me segurar.

Eu havia ido as pressas ao hospital porque recebi a informação do engano que fizeram com o meu amigo. O médico pediu desculpas, pois trocaram as fichas. Já tinham anestesiado o outro paciente e depois receberam a informação de que ele havia sido transferido. Sílvio não disse uma só palavra enquanto futucavam e costuravam suas tripas. Ganhando ou perdendo, ele só queia ser feliz, 

- Eu sinto muito - o médico estava inconformado. - Ele deveria ter dito alguma coisa, a enfermeira disse que ele estava acordado no momento da cirurgia.
- Eu não vejo a hora de processar esse hospital - eu estava mais inconformado ainda. - Quer apostar quanto que eu e o meu amigo ganhamos esse processo?

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1 Respostas para "O Grande Apostador"

  1. Anônimo 22 de maio de 2010 às 22:06
    Israel muito bom essa crônica,e o pior é que hoje em dia parece que esses erros médicos estão ficando mais comuns.
    Bom fim de semana.

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