2 Aos pés de Samanta

por Israel França

Samanta adorava quando eu massageava seus pés no café da manhã. Certa vez nós brigamos por algum motivo que não lembro. Agarramos-nos como cães enraivados mas eu nunca tive coragem de bater nela. Ela lançou seu salto alto de 12 centímetros no meu rosto e me obrigou a dormir no sofá. Liguei a TV, pois sempre que nós brigávamos, eu assistia a programas de auditório até altas horas. Naquele dia não tive tanta sorte, pois estava chovendo e isso deve ter derrubado um poste, provocando um blecaute geral na cidade. Fiquei sentado no sofá imaginando como seria desastroso o mundo sem a minha Samanta brigona. Adormeci não sei como e acordei quando o café da manhã já estava pronto.

Samanta havia me acordado. Timidamente chamou o meu nome apenas uma vez, o suficiente para despertar meu sono. Levantei-me e sentir-me como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Tentei abraçá-la, mas ela continuava irredutível, fria como sempre. Ignorou-me enquanto servia as crianças. Sentei a mesa e sentir-me como um mendigo tomando café em casa alheia. Mas esse constrangimento durou pouco. Por extinto conjugal olhei para debaixo da mesa e vi que seus pés estavam lá como sempre, me vigiando. Eles se mexiam sobre o tapete, branquinhos, cheirosos e bem cuidados. Samanta tinha pés lindos e adorava quando eu os acariciava nos dias seguintes as brigas. Após noites de fúrias, nos cafés da manhã, tínhamos longas sessões fisioterapêuticas. Eu não sou um daqueles obsessivos por pés como muitos por aí, apenas adorava os pés de minha Samanta. Apesar da nossa briga na noite anterior ainda não ter acabado, massageei. Ela fazia de conta que nada estava acontecendo. Segurei seus pés com bastante delicadeza e fiz de conta que havia esquecido o meu galo na testa, provocado pelo sapato mais pesado do mundo. Sempre foi assim. Não podia ser diferente daquela vez. Mesmo brigados, com raiva um do outro, eu tinha a certeza de que Samanta não rejeitaria meus carinhos, mesmo que para isso eu tivesse que me ajoelhar a seus pés.
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2 Respostas para "Aos pés de Samanta"

  1. Anônimo 21 de maio de 2010 às 22:24
    Oi, Israel... Amei essa crônica1 Muito bom!

    Há!braços
  2. Célia Regina 21 de maio de 2010 às 22:27
    Oi, Israel... Amei essa crônica! Muito bom!

    Há!braços

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