1 O Desabafo
por Israel.França
Diga-me sobre o seu desamor
Fale-me sobre suas desventuras
Sacie-me com sua falta de louvor
Alegre-me com suas amarguras
Ao ouvir sua desgraça profunda
A comparo aos outros fracassos
Conte-me sobre sua vida imunda
Não omita seu infeliz desabafo
Discurse sobre seus atos sem saída
Que eu contarei a miséria alheia
Declare o que o deixa em carne viva
E como é amargo o que corre em sua veia
Desabafe o seu malicioso pecado
Enquanto esbanja sofrimento absurdo
Quando eu ouvir não ficarei calado
E eu contarei ao resto do mundo
Proteste ao mundo zombeteiro
E defenda-se se ele te ferir
Corra, encontre outro parceiro
Se eu não puder te ouvir
Engane a dor com sucesso
Se for inevitável se machucar
Durma para enganar a fome
A ambulância não tarda a chegar
Conte aos outros as suas trapaças
Faça-os chorar com os seus feitos
Assuste-os com suas ameaças
Engane-os com seu blefe perfeito
Esqueça de vez a sua triste história
Ou se aprece em preparar o seu leito
Apague o que há em sua memória
Do contrário não serás mais aceito
Esqueça a solução dos seus problemas
Errei, a ambulância tarda a chegar
O mundo que conheci era outro
Nesse é mais difícil fraudar
Amor inabalável versos sofrimento amoroso
Bela companhia versos detestável solidão
Vida vazia versos apaixonado orgulhoso
Falta de vergonha somada ao ódio no coração
Na luta contra seu estado assombroso
Há uma disputa que já está pra acabar
Na corrida contra a infelicidade alheia
Quero chegar em primeiro lugar
Como é bom cantar esse coro
E usar a hipocrisia que o Diabo me deu
Fingir solidariedade em meio ao choro
De um intérprete oportunista como eu
Não se assuste com toda essa calúnia
Que (in)felizmente abalou seu jeito (in)correto
Para toda infecção há uma cura
Se não houver não quero estar por perto
Não se acanhe e conte-me toda a verdade
Eu insisto no tema, mas antes que eu me esqueça
Sou tanto o demônio que maliciosamente te houve
Quanto o amigo que amigavelmente te apedreja
Narre suas decepções amorosas
Informe-me sobre o seu estado penoso
Assuste-me com palavras rancorosas
Que eu lhe mostrarei o meu riso insosso
Conte ao demo suas incríveis trapaças
E enriqueça-me com suas belas mentiras
Pois sou tanto o que ouve quanto o que fala
Sou aquele que cura e magoa as feridas
O contaminei com o meu discurso fingido
Abafei como pude o sofrimento dos pobres
O chantageei com meu o blefe falido
Fiz te calar como pude nessas estrofes
Pois sou o mendigo que pede esmolas,
Ou o bandido que mata e rouba por prazer,
Sou todos os frios corruptos da praça
Inclusive o mais miserável: você, o qual lê
Com a inteligência que adquiri eu fui fundo
Maltratei com louvor os grandes e experientes
Tingi com ignorância os sábios deste mundo
Fraco fui ao não dar a bênção aos indigentes
Nunca se esqueça da traição afiada
Que o desferiu como uma espada inimiga
Eu lhe entreguei na ladeira da morte
Que cruza com a esquina da vida
Quando senti a inevitável morte
Vi o que sempre temi ver
A humildade não foi o meu forte
Nem a pureza habitou em meu ser
Morri triste e sozinho, é verdade
Depois de cutucar os aflitos
Ofereci a mim mesmo carona para o mundo dos mortos
Quando expulso fui do mundo dos vivos
"Aqui jaz o mal em seu absoluto resplendor
Viveu, maltratou, foi lindo, viril, mal e forte
Experimentou a glória deste mundo e o fulgor
Desceu a cova sem sorte, em meio a morte, sem louvor"
"Aqui jaz eu mesmo podre e corroído
Aos outros não mais ponho em tormento
E não mais submeto-os ao ridículo"
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