0 Amor é coisa antiga
por Israel.França
Lá está ele, pronto para mais uma de suas aventuras, em cima de uma árvore, com a sua performance de dar inveja aos outros deuses. Com a sua flecha em punho, o deus cupido se prepara para lançar sua mira sobre mais um casal que mal se conhece, o qual em breve se amará pelo resto de sua vida. Mas algo dá errado dessa vez: o cálculo foi incerto e o erro é fatal. Um dos alvos foge à mira e a flecha é fincada sobre a grama e perdida na imensidão do amor não correspondido. É aí que o pior acontece e apenas um dos dois termina amando. Aquela flecha que passou raspando pelo ser que agora não ama, foi perdida e o cupido precisa encontrá-la; o que não foi atingido pelo amor vai embora, deixando o ser apaixonado a chorar sobre a grama, de um jardim marcado por flechas lançadas por um cupido louco.
O que eu faço,
Cupido, por aqueles que choram por outros que no momento estão rindo? Eu vi de
perto o massacre contra os apaixonados; vi de perto aqueles que amam demais
dormirem mais tarde e acordarem mais cedo; vi aqueles que não têm o seu amor
correspondido desistirem da verdadeira felicidade; vi de perto os olhos
lacrimejantes das minhas amigas que não riam mais, pois a depressão chegou ao
ponto de pedir o adiamento da conquista de um grande amor; eu vi todos aqueles
que amo perderem o sono por causa de amor. Tudo isso é passageiro, mas muitas
vezes, o mau sentimento não se esvai por completo e resquícios de amor não
correspondido são deixados pela flecha do cupido. Amor é coisa antiga e
persegue-nos desde o princípio. Não é de hoje que cupidos erram o seu alvo. Oh,
poderoso cupido, por que deixais o mundo a ser tomado por flechas
descontroladas e envenenadas por amores pela metade quando que na verdade o
amor deveria ser lindo e praticado por ambas as partes?
“Eu o amo. O teu
sorriso é lindo, o teu olhar me deixa inquieta, o teu charme me destorce
enquanto me esforço para lembrar de algo a dizer a você; fico muda quando te
vejo, com você só me lembro do meu único desejo: o de jamais esquecer você”. Mas
de que adianta ser franco ao ponto de nos declararmos para o ser mais
importante desse mundo, se as nossas palavras somem de tanto orarmos a Deus por
aquele que já esqueceu os nossos ditos sentimentos? “Bem, pelo menos eu
tentei”, é o que dizemos ao espelho quando o sonho de amar passa a ser em vão e
as nossas palavras tornam-se fúteis. “Oh, Deus, eu fui atingido pela flecha do
cupido. O que mais eu posso fazer senão apenas amar... e rezar... para eu não
morrer de amor?" E quando recuperamos a voz após longos dias de rouquidão
e silêncio, dizemos a nós mesmos que é melhor nos arrepender-mos daquilo que
não foi feito do que pelo que foi dito em meio a agonia do mundo, para o nosso
grande e eterno amor, o qual não teve ainda o privilégio de chorar e ficar
rouco por amar demais.
Oh, pobres mortais,
perdoem o insano deus cupido, pois ele sabe o que faz. Ele pede perdão pelas
flechas lançadas erroneamente, mas se justifica dizendo que é melhor ver o
cálice transbordando do que vê-lo seco e sem vida. E ele diz mais: “se hoje
choramos por não sermos amados, amanhã riremos por sermos os próximos a ter o
amor correspondido”.
Acredita mesmo
nisso, em vítimas de cupido? É tudo bobagem. Cupidos não existem; flechas
também não, e nós sabemos disso. Erro de cupido é o que inventamos quando não
controlamos o nosso amor, pois este é coisa antiga, é experiente e nos conhece
bem, não é o amor que é lançado pela flecha de um deus que se diverte com o
amor entre dois mortais, é o amor que toma vida própria e nos dá uma lição de
vida, pois quem nunca amou ainda não viveu. Mas se você existe, oh deus cupido,
peço-te agora que cesse a loucura amorosa imediatamente, e assim como Julieta que
aniquilou sua pobre vida por amor a Romeu, eu me submeto, oh cupido, às suas
flechas ensandecidas e me entrego ao amor não correspondido em prol dos meus
amigos que não suportam mais chorar!
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